Beladona - Episódio 1
by Kayla Parent
A luz da lua atravessa a copa das árvores...
Iluminando a trilha escura à minha frente.
Ouço o barulho de um galho...
E meu coração me sobe até a boca.
Mas, quando uma silhueta aparece, eu recupero o fôlego.
É ele.
O cara que eu estava esperando.
Nós nos olhamos, fazendo contato pela primeira vez.
Você não se parece com ela.
Não daria certo se eu me parecesse.
Está preparada?
Tenho que estar.
É o único jeito de descobrir o que aconteceu com a Verity.
O Beladona é perigoso.
Não tenho medo delas.
Pois deveria ter.
Na manhã seguinte
A Academia Blackvale não é uma escola comum...
Eu observo a estrutura gótica, semelhante a um castelo...
E respiro fundo.
Chegou a hora.
Não tem como voltar atrás.
Verifico novamente se estacionei na vaga marcada com o número "1"...
E pego o celular para escrever para o Warren.
Parei na vaga delas como você disse.
Depois eu falo como foi.
E então, eu me preparo.
Solto o coque do meu cabelo...
E o deixo cair sem controle sobre os meus ombros.
Pinto meus lábios de vermelho-sangue...
Visto minha meia até o joelho...
E troco a rasteirinha pelo sapato de salto 10 preto.
Por fim, tiro meu colar...
Um coração com a letra "V" gravada...
E o coloco no bolso da camisa.
Se o vissem, poderiam saber quem eu sou.
E isso não pode acontecer.
Até onde todos sabem, meu nome é Nova.
Eu desço do meu carro sob uma garoa fina.
Me deparo com um mar de rostos chocados...
Mas não tenho reação.
Preciso ser a garota nova confiante e descolada.
Quando me apoio na porta do carro como se não ligasse pra nada...
Meu celular recebe uma nova mensagem.
Cuidado, Nova.
Antes que eu possa responder...
Uma garota baixinha corre até mim.
Ela parece em pânico.
Você ficou maluca?
Não pode estacionar aqui!
Eu a observo de cima a baixo.
Ela é bonita, mas com o excesso de joias coloridas e de maquiagem...
Está na cara que ela "se esforça demais".
Por que não?
Ela segura o meu braço e tenta me levar até a porta do carro.
Tem que tirar o seu carro... agora.
Essa vaga é delas.
E elas vão chegar a qualquer minuto.
Eu me recuso e me livro das mãos dela.
Quem são "elas"?
E quem é você?
Ela solta um suspiro desolado...
Olha para os lados e se aproxima de mim.
Eu sou a Thora, do 2º ano.
E "elas" são o Beladona!
As palavras saem da boca dela com veneração e medo.
São as garotas que mandam em tudo aqui.
E, acredite, você não vai querer tê-las como inimigas.
Então tire o seu carro antes que...
Um trovão a interrompe...
Bem quando ela fixa o olhar em algo atrás de mim.
Tarde demais.
Eu me viro e vejo um carro de vidros escuros e aparentemente caro encostando.
Ele para atrás da vaga número 1.
Thora suspira ao meu lado.
Você está ferrada.
Não tenho medo dos populares.
Thora me olha como se eu fosse de outro planeta.
Elas não são só populares...
Eu olho para o carro quando o motor desliga.
Elas são muito mais do que isso.
Elas são poderosas, e não só na escola.
Como assim?
Elas têm influência na cidade...
Rolam boatos sobre o que já fizeram...
Para conseguir o que querem.
Thora aperta as mãos.
E elas sempre conseguem o que querem.
Ela pausa e, como se falasse consigo mesma, diz...
Elas são perigosas.
Uma garota desce do carro...
E Thora se inclina pra sussurrar ao meu ouvido.
É a Cleo Covington, também do 2º ano.
O pessoal a chama de súcubo...
Porque ela parte corações.
Dou uma olhada na Cleo.
Ela é deslumbrante mesmo...
Com seus olhos de gato e traços de modelo.
Mas também parece terrível...
Muito acima de uma garota tipicamente cruel...
E ela está olhando direto pra mim.
A porta do passageiro se abre, chamando minha atenção, e uma segunda garota aparece.
Ela é mais baixa, de pele escura e tão bonita quanto a outra.
Essa é a Paulina Auberon.
É do 1º ano, e a garota mais inteligente da escola.
Mas ela não é só intelectual.
Ela é esperta e implacável.
Paulina também me encara...
Mas, ao contrário da Cleo, o dela é um olhar ardiloso.
E a intensidade dele me faz gelar.
A porta do motorista se abre bem na hora que o estrondo de um raio é ouvido acima.
E quando a garota aparece...
Meu rosto fica branco na hora.
Ela parece... letal.
Aquela é a Kendall Eris.
Último ano, e presidente do Beladona.
Ela é reservada, mas não se engane.
É ela quem manda em tudo por aqui... E em todos.
Eu acredito.
Não é apenas o cabelo preto longo...
Ou o olhar calmo e aterrador no rosto dela...
Mas sua presença sinistra e ameaçadora.
E, por um segundo, eu só consigo olhar.
As três garotas se juntam atrás do carro...
Depois, ao mesmo tempo, começam a vir em minha direção.
Thora dá alguns passos para trás...
E, de repente, eu estou sozinha.
Estou apavorada, mas fico na minha.
As três garotas param diante de mim.
A chuva engrossa...
Mas a voz penetrante da Paulina corta a lâmina da chuva como uma faca.
Essa vaga é nossa, novata.
Os olhos dela me percorrem de cima a baixo em uma análise demorada e ameaçadora...
Fico sem palavras.
A Cleo se aproxima com ar debochado.
O que foi?
O gatou comeu sua língua?
Ela molha os lábios, e seus olhos brilham.
Solto um suspiro trêmulo e olho para Kendall.
Ela não diz nada...
Mas seus olhos estão fixos nos meus.
Engulo em seco.
Como a Verity fez parte desse grupo?
Ela não tem nada a ver com elas.
Depois de um momento de tensão...
Respondo como se não tremesse por dentro.
Consigo até soltar um sorriso aborrecido.
Parece que hoje ela é minha.
Murmúrios chocados irrompem à nossa volta...
E eu sorrio para o Beladona.
E então, com vários olhares às minhas costas...
Eu me viro e vou embora.
De alguma forma, consigo ter minhas primeiras aulas.
Mas não soube mais nada do Beladona.
Não é um bom sinal.
Para ter respostas, preciso me infiltrar no grupo.
Descobrir o que fizeram com...
Só se fala de você na escola!
Eu me afasto do meu armário e vejo a Thora.
Ela não consegue ficar parada, é quase vertiginoso.
Como assim?
Ninguém acredita no que você fez!
Peitar o BD daquele jeito...
Você é corajosa, moça!
Eu dou de ombros, fingindo indiferença...
E minto descaradamente.
Não sabia que era a vaga delas.
Thora se aproxima, com os olhos brilhando.
Elas não estiveram em nenhuma aula agora de manhã.
Estão dizendo... que elas querem vingança.
Eu reviro os olhos, tentando parecer inalterada.
Já disse que não tenho medo delas.
Thora me olha.
Pois deveria ter.
Mas não se preocupe...
Eu te protejo.
Quer almoçar comigo?
O sinal do almoço é bem pontual.
A Thora parece legal e, se eu fosse almoçar, iria com ela...
Mas tem outra coisa que eu preciso fazer.
Abro meu armário e dou um sorriso de desculpas.
Eu adoraria.
Mas preciso falar com o diretor.
Pode ser amanhã?
Os ombros dela desabam, mas ela concorda.
Tudo bem. Toma cuidado, viu?
É sério.
Eu balanço a cabeça, e quando ela vai embora...
Mando mensagem para o Warren.
Consegui a atenção delas.
Só não sei se da melhor maneira.
O Beladona gosta de mulheres ousadas.
Fez a coisa certa.
Sinto que tenho um alvo nas costas.
Imagine como a Verity se sentiu.
Eu solto um suspiro e guardo o celular.
Olho em volta, vendo se o corredor está vazio...
E vou ao primeiro andar.
Vou passando a mão pelos armários...
Até encontrar o que estou procurando.
Armário 557. O armário da Verity.
Sem pensar, tento abri-lo...
Mas está trancado.
Giro o cadeado em vão, e acabo frustrada.
Como vou abrir isso?
Ouço uma porta se abrir no corredor...
E olho bem a tempo de ver a Kendall saindo.
Ela parece tão intimidadora quanto antes...
E, inconscientemente, eu me achato contra os armários.
Ela começa a ir em direção à porta da frente...
Mas para por um instante e procura algo no bolso.
Tira uma caixa de porcelana...
Olha pra ela por um bom tempo...
E então deixa o prédio.
Eu hesito, mas segundos depois...
Vou atrás dela.
Aonde ela iria no meio do dia?
Posso chamar a atenção dela sem ser muito óbvia?
Minha mente cogita mil ideias.
Quando chego lá fora...
A Kendall está no meio-fio...
Nos braços de um cara numa moto.
Ele veste uma jaqueta de couro preta e jeans combinando...
E está sorrindo no pescoço dela.
Do nada, como se sentisse minha presença, ele olha pra cima...
Nossos olhos se encontram.
E em apenas um segundo...
Meu corpo perde todo o ar.
Ele tem um cabelo escuro bagunçado...
E olhos frios e azuis como gelo.
A mandíbula proeminente tem um leve começo de barba...
E os lábios são mais volumosos que os de qualquer homem.
É a pessoa mais deslumbrante que eu já vi.
No fundo da minha mente...
Percebo que ele também está me olhando...
Com a boca levemente entreaberta.
Kendall se vira de repente...
E me atinge com um olhar tão feroz...
Que fica difícil pra mim conter minha expressão.
Rapidamente desvio o olhar e vou para o carro...
Mas não antes de ler a placa da moto.
"Rylan."
Deve ser o nome dele.
Eu me dou uma bronca ao pensar nisso.
Quem liga para o nome dele?
A Kendall me pegou encarando o homem dela!
Devo ter estragado tudo.
Finjo pegar algo no carro...
E então caminho de volta para a escola...
Mantendo os olhos afastados.
Preciso me acalmar... Me concentrar.
Mas meu corpo inteiro vibra.
Não esqueço o que senti quando ele me olhou...
Fora de controle e selvagem.
Ao passar por eles, ouço parte da conversa.
A voz do Rylan é grave e firme.
Não sei o que aconteceu.
O motor não liga.
De repente, eu tenho uma ideia arriscada.
Eu cresci com meu pai...
Que tem uma oficina mecânica.
Talvez, apenas talvez...
Pode ser assim que vou chamar a atenção da Kendall.
Eu dou um giro e vou direto até eles.
Os dois me olham ao mesmo tempo...
Mas antes que possam falar...
Eu me aproximo e giro o guidão...
Até ouvir um clique.
Depois pressiono a embreagem e giro a chave.
A moto volta à vida.
Caramba. Não é que deu certo?
Maravilha!
Um sorriso furtivo surge nos lábios dele.
Rylan parece impressionado.
Olho para ele...
E as palavras simplesmente saem de mim...
Se precisar de ajuda com o motor...
É só me avisar.
As sobrancelhas dele se erguem de surpresa...
Mas ele esboça um sorriso.
Eu pisco, e não olho para a Kendall ao me afastar.
Ao dar as costas pra eles...
Deixo escapar a respiração que eu estava segurando.
Aquilo foi bem ousado e destemido.
Só espero que eu não tenha exagerado.
Mas ao fim do dia...
Quando ainda não tinha notícias do Beladona...
A esperança que eu tinha começou a sumir.
A Verity me disse que foi escolhida pra fazer parte do grupo no primeiro dia.
Que o BD decide sobre as garotas na hora...
E se não tiver notícias delas...
Você não tem chance de entrar.
Dou a má notícia ao Warren.
Nada.
Sinto muito.
O que eu vou fazer agora?
Meu plano dependia da minha entrada no grupo.
Derrotada, eu abro meu armário...
E um pequeno envelope preto cai aos meus pés.
Quase tremendo de esperança...
Eu o recolho do chão e abro.
Dentro tem uma flor Beladona seca...
E um bilhete dizendo: "Lago Rouxinol. À meia-noite."
Ouço um sobressalto atrás de mim.
AI, MEU DEUS.
Ela arranca o bilhete da minha mão e lê.
É um convite pra uma festa no lago!
Elas são muito exclusivas!
Como você é sortuda!
Não tenho tanta certeza...
Mas é um alívio concluir o primeiro passo.
Enquanto Thora fala sem falar sobre a festa...
Eu envio uma mensagem pro Warren.
"Esqueça. Eu consegui."
Chego ao Lago Rouxinol pouco antes de meia-noite.
Atualizo o Warren por mensagem.
Cheguei.
Tenha cuidado.
Essas festas são infames por um motivo.
Um vento frio passa por mim ao ler as palavras dele.
Arrepiada, eu entro na floresta...
Seguindo sons de música e risadas.
Mas antes de chegar à clareira...
Vejo uma placa velha que diz "Lago Rouxinol".
Meu coração para no peito.
Este é o último lugar onde a Verity foi vista.
É doentio que ainda façam festas aqui.
Tentando me acalmar...
Fecho meus olhos e respiro fundo...
Pondo a mão no colar escondido na camisa.
Onde você está?
Eu sussurro as palavras ao vento...
E fico chocada ao ouvir uma resposta.
Estou bem aqui.
Eu me assusto e me viro.
Encostado em uma árvore, está ninguém menos que Rylan.
Está todo de preto de novo...
E tão bonito como naquela hora.
Meu coração dispara ao vê-lo.
Desculpe, não quis te assustar.
Ele começa a se aproximar...
E eu instintivamente me afasto.
Ele pode ser o homem mais bonito que eu já vi...
Mas eu não o conheço...
E não posso confiar em ninguém.
Como se sentisse o meu desconforto...
Rylan põe a mão no bolso.
Não costumo me esconder nas árvores.
Só queria ficar um pouco sozinho.
Ele inclina a cabeça sobre o ombro...
E eu olho atrás dele...
Tendo minha primeira visão do lago.
Pisco algumas vezes para digerir tudo.
Uma dúzia de tochas iluminam a escuridão...
Mas mesmo com sombras em movimento...
Eu consigo distinguir o caos.
Não, é mais do que apenas caos...
É devassidão.
Tem garotas em vários estágios de nudez...
Bebidas e baseados sendo compartilhados em toda parte...
E acho que vi um casal transando no ancoradouro.
Rylan segue o meu olhar e dá risada.
Isso cansa, acredite.
Eu olho pra ele e analiso seus traços.
Fico impressionada com a forma como os olhos dele brilham sob a luz da lua...
E esqueço como se fala.
Mas ele solta um pigarro e estende a mão.
Rylan Eventide.
Primeiro ano no Dexter.
Dexter?
A escola pra garotos do outro lado do lago.
É, a Verity me falou a respeito.
E é onde o Warren estuda.
Ah... legal.
Nossa, por que estou tão travada?
Não costumo ser assim.
Rylan sorri como se lesse meus pensamentos.
E aí, quem é você?
A pergunta me deixa nervosa...
E respondo mais rápido do que eu gostaria.
O que quer dizer com isso?
Por que quer saber quem eu sou?
Ele ri levemente e ergue as mãos.
Só quero agradecer a garota que me ajudou com a minha moto hoje, é só isso.
Ah.
Solto um pequeno sorriso.
Estou sendo paranoica.
Eu sou a Nova.
E recém-chegada.
O quê?
Ele abre um sorriso e morde o lábio inferior.
Você se chama Nova e acabou de chegar.
Caiu como uma luva, não acha?
Eu rio e desvio o olhar.
Acho que sim.
Acabei de me mudar de Nova York.
De Nova York pra Washington?
É bem longe.
O que traz você aqui?
Não posso contar o verdadeiro motivo...
Mas revelo um pouco da verdade.
Meus pais são divorciados.
Eu morava com meu pai...
E agora vim pra cá passar um tempo com a minha mãe.
Ele balança a cabeça e fica um pouco em silêncio.
Me preparo pra sair, mas as palavras dele me impedem.
Você está com problemas ou algo assim?
É uma pergunta pessoal para um estranho fazer.
Eu deveria me afastar, mas...
Por que pergunta?
Ele dá de ombros e põe a mão no bolso outra vez.
Você parecia triste.
Desta vez, ao responder...
Eu digo toda a verdade.
Não estou triste.
Estou com raiva.
Ele pisca pra mim devagar.
Seus lábios murcham, mas os olhos ficam mais suaves.
Eu também.
O tempo todo.
O vento agita o ar em volta enquanto procuramos nos olhar.
Não sei por que ele tem raiva...
E ele não sabe nada sobre mim...
Mas sinto uma compreensão nos olhos dele...
E acontece uma troca inexplicável entre nós.
Não sei por que, mas me aproximo dele.
Talvez eu queira sentir mais daquela compreensão...
Não me sentir tão sozinha.
Mas assim que ele se inclina pra mim...
Eu ouço uma leve risada à minha esquerda.
Rylan e eu nos viramos ao mesmo tempo...
E imediatamente nos afastamos um do outro.
Estavam ali paradas Kendall, Paulina e Cleo.
O Beladona.
Por um momento, ninguém diz nada.
Fico na dúvida entre me desculpar ou inventar alguma coisa.
Ser pega sozinha com o namorado da Kendall não é ousado.
É estupidez.
Mas antes que eu pudesse falar...
A Kendall se aproxima.
Ela vai para os braços do Rylan...
E eu desvio o olhar quando ela o beija possessivamente.
Sinto um estranho desapontamento...
Mas não demonstro.
A Cleo e a Paulina dão risadinhas...
Depois caminham até ficarem diante de mim.
A Kendall logo se junta a elas...
E, de repente, estou cercada.
Mas não posso me deixar intimidar...
Por isso fico de cabeça erguida.
Eu abro minha bolsa...
E retiro o envelope.
Por que eu estou aqui?
Fico chocada quando é a Kendall que responde.
Você sabe quem nós somos?
A voz dela é suave e doce.
Não combina com a aparência ameaçadora...
E me sinto ainda mais intimidada por ela.
Todo mundo sabe.
As três se entreolham e sorriem.
Ela entende de motos, meninas.
É cheia de surpresas.
Cleo se aproxima e toca o meu cabelo.
Eu me seguro pra não dar um tapa na mão dela.
Ela vem para o meu lado esquerdo...
E com todas elas tão perto, por todos os lados...
Começo a me sentir sufocada.
Por instinto, eu dou um passo adiante...
Depois, me viro e cruzo os braços.
Minha voz não demonstra a raiva que sinto.
Essas garotas são terríveis...
E não acredito que a Verity as considerava amigas.
O que vocês querem?
Eu dirijo a pergunta à Kendall...
Mas é a Cleo que responde.
Você nos pregou uma peça no estacionamento hoje, garota nova.
Eu fixo meus olhos nos dela...
E ela avança em minha direção com desprezo.
Eu também avanço, até ficarmos cara a cara.
Então querem bater em mim?
Três contra uma não parece justo.
A Paulina segura o braço da Cleo e a puxa de volta.
Depois se aproxima com um olhar de avaliação.
Você chamou nossa atenção.
Você se destaca.
E, se tudo correr bem...
Queremos que se junte a nós.
O Warren estava certo.
Elas gostam de mulheres ousadas e destemidas.
Mas eu sei que não vai ser assim tão fácil.
Eu mudo de posição.
Tenho que parecer calma.
Essa oferta de amizade é uma graça.
Mas não estou interessada.
Kendall solta uma gargalhada...
O som forma um eco à nossa volta.
Não estamos oferecendo amizade.
Estamos oferecendo uma oportunidade.
Como assim?
Kendall sorri vagarosamente.
Poder.
Paulina vai para o lado dela.
Esqueça o que pensa que sabe sobre nós.
Nós existimos há décadas.
Só as melhores entre as melhores podem se intitular uma Beladona.
As garotas que se formam com esse título ganham mais do que apenas poder.
Elas conseguem tudo o que querem.
Blackvale está cheia de crianças patéticas e sentimentais que não vão chegar a lugar algum.
Esperamos que você seja diferente.
Eu as observo com cuidado...
Tentando não demonstrar minha felicidade.
Meu plano deu certo!
Estão me oferecendo a chance de ser uma delas...
Como fizeram com a Verity.
É a minha chance de ter respostas concretas...
E o momento de fingir calma passou.
Um pouco de poder não é nada mau.
Está bem.
Estou dentro...
As garotas começam a rir.
Cleo é a mais escandalosa.
Ela me mostra um sorriso frio, mas muito bonito.
Não é assim que acontece, novata.
Tem que provar o seu valor antes.
Temos um teste pra você.
Você topa?
Está um passo mais perto.
Minha vontade é gritar: "Faço qualquer coisa!"
Porque é verdade.
Eu tenho que entrar nesse grupo...
E prometo concordar com tudo o que disserem.
Qual é o teste?
A Kendall sorri e dá o braço para o Rylan.
Eu olho pra ele pela primeira vez em um bom tempo.
Ele está me olhando com o rosto sério...
Mas sinto uma inquietação no olhar dele.
A Kendall fala alto, como pra chamar minha atenção.
Está vendo aquela florzinha ali?
Florzinha?
Eu sigo o dedo dela até uma morena no ancoradouro.
Queremos que a empurre no lago.
Meus olhos se arregalam.
Por que eu faria isso?
A Kendall faz um biquinho.
Porque vai ser hilário.
Eu olho para a garota.
Eu seria capaz de algo tão gratuitamente cruel?
Com alguém que eu nem conhecia?
Isso estragaria a noite dela.
Eu... acho que poderia me desculpar depois.
Compensá-la de alguma forma.
Eu dou alguns passos adiante...
Mas meu estômago começa a se revirar.
Tento pensar na Verity.
Tento lembrar que preciso fazer o que for pra entrar nesse grupo.
Eu vejo a garota rindo e se aproximando da beirada.
Fecho os olhos, totalmente dividida.
E quase dou outro passo...
Mas eu paro.
Não posso fazer isso.
Não vou fazer.
Eu abro os olhos e encaro o Beladona...
Não.
Sou invadida pela decepção...
Mas consigo manter a cabeça erguida.
Não?
Eu balanço a cabeça e olho para o Rylan.
Ele está... sorrindo.
Por que estaria sorrindo?
Achem outra pra fazer o seu serviço sujo.
De repente, colocam uma bebida na minha mão.
Paulina está ao meu lado, também sorrindo.
Ótimo.
Nunca maltratamos outras mulheres a menos que seja merecido.
A Cleo não sorri, mas parece impressionada.
Você passou.
Desta vez.
É mesmo cheia de surpresas.
Um grande alívio toma conta de mim.
Não perdi minha chance afinal de contas.
Tomo um gole da bebida, precisando me acalmar.
E, quando olho pra cima, a Kendall está na minha frente.
Anda, novata.
Vamos nos divertir.
Chego em casa umas quatro da manhã...
E estou exausta.
Mas ainda não posso ir dormir.
Preciso fazer uma última coisa.
Eu vou até o bosque atrás da minha casa...
E no riacho agitado...
O Warren já está esperando por mim.
Ao me ver, ele se levanta da pedra onde estava sentado.
Ele é alto, com um físico comum e cara de bom moço.
Bonito, com certeza.
Não é o meu tipo, mas é o tipo da Verity.
Eu aceno pra ele sem muita motivação...
E me jogo na pedra que ele acabou de desocupar.
Warren enfia as mãos nos bolsos...
E me olha preocupado.
Você está bem?
Dou uma risada sem graça.
Se estou bem?
Não, Warren, não estou.
Minha irmã está desaparecida.
E eu abandonei minha vida inteira pra vir a essa cidade infeliz tentar encontrá-la.
Minha nova escola parece um filme de terror.
E preciso me infiltrar num grupo de psicopatas pretensiosas e egocêntricas...
Eu salto da pedra e cruzo os braços.
Vejo os olhos do Warren se arregalarem...
Mas não consigo parar.
Porque foram elas que a viram por último.
E talvez tenham sido as culpadas pelo desaparecimento dela!
E pra completar...
Parece que a polícia simplesmente parou de procurar por ela.
Está tudo nas minhas costas.
Porque ninguém mais parece se importar!
Warren parece magoado, e põe o dedo no peito.
Eu me importo.
Eu a amo.
Eu olho pra ele e vejo que está dizendo a verdade...
Paro de espumar.
Eu sei que ele se importa.
Eles namoravam há vários meses.
Foi ele que tinha entrado em contato comigo...
E que pensou nesse plano todo.
Você está certo.
Me desculpe.
Só estou cansada.
Eu volto a me sentar na pedra.
Ele se senta ao meu lado, mas com um espaço entre a gente.
E como foi a festa?
Uma loucura.
Mas não tanto quanto o Beladona.
Eu digo o nome com pompa, e ele ri.
Acabo rindo também...
Mas o riso passa assim que chega.
Eu digo a ele o que estou sentindo de verdade.
Essas garotas do Beladona...
Não sei se vou conseguir continuar.
Nunca conheci ninguém como elas.
Warren faz um barulho, concordando.
Não existe ninguém como elas.
Mas você vai ficar bem.
Eu o olho de lado.
Mesmo?
E como sabe disso?
Ele dá de ombros e também me olha de lado.
Você as impressionou, não foi?
Não é todo mundo que consegue isso.
Foi só porque você me ajudou.
Ele se vira pra me olhar diretamente.
Nós estamos nisso juntos, Nova.
Sinto uma onda de gratidão.
Pelo menos tenho uma pessoa em quem posso confiar.
E me lembrei do que eu precisava contar a ele.
Falando em estar nisso juntos...
A Kendall vai dar um jantar amanhã...
E preciso de um acompanhante.
Warren expressa total surpresa...
E depois desvia olhar.
Eu sei que é estranho.
Mas não conheço ninguém aqui.
Você é minha única opção.
E não posso aparecer sozinha.
Kendall diz que uma BD nunca aparece sozinha.
Warren suspira e balança a cabeça.
É, tudo bem.
Eu vou.
Pode ser uma boa irmos juntos.
Ter uma chance de vasculhar a casa ou algo assim.
Eu balanço a cabeça e me levanto.
Amanhã nós conversamos.
Estou exausta.
Ele fica de pé, e caminhamos até minha casa.
É tão estranho, sabe?
O quê?
Que minha irmã fosse amiga dessas garotas.
Ele para de repente.
Como é que é?
Isso não faz sentido.
Uma garota meiga como a minha irmã?
Sendo uma Beladona?
Não tem como...
Nova.
O timbre de voz dele me pega de surpresa.
Eu me viro pra olhar pra ele, com o cenho franzido.
A Verity não era uma Beladona.
Meu sangue gela.
Por um momento, eu só fico olhando pra ele.
Como pode ser?
Elas não eram nem amigas.
Minha mente dispara.
Eu repasso todas as conversas com a minha irmã.
Ela só falava na Kendall e no Beladona.
Que ela tinha sido convidada...
E que todas logo se tornaram amigas.
Que ela era popular e...
Foi isso que ela te contou?
Eu faço que sim, transtornada, sem saber o que fazer com isso.
Ela mentiu pra mim.
Por que ela mentiria?
Ele suspira e olha para o nada.
Não sei.
Um pouco depois, eu vejo Warren dirigindo pela noite.
Totalmente exausta antes, agora não consigo me acalmar nem com muito esforço.
Sobre o que mais a Verity mentiu?
O que realmente está acontecendo aqui?
De repente, ouço um graveto estalar atrás de mim.
Eu me volto para as árvores.
Ouço um roçar, e meu coração volta a acelerar.
Quem está aí?
Eu volto ao bosque pra dar uma olhada.
Nada.
Mas ouço o som inconfundível de passos leves correndo ao longe.
Tinha alguém nos observando.
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